Caminhos
cruzados
Hoje
é o aniversário de mamãe. É um dia sagrado para mim: sem ela, eu nada seria. E
minha vida só existe porque um dia ela decidiu trilhar novos caminhos. Mas para
contar isso, precisarei falar de outra pessoa que também é divina para mim: meu
pai.
Há
muitos anos, quando ainda era pequena, eu ajudava minha mãe a cuidar de meus
irmãos. E, na hora do almoço, levava o alimento ao meu pai. Enquanto ele não
chegava, eu observava as árvores, as flores, os pássaros e cantava. Então, de
repente, ele vinha: sentava-se numa pedra, comia a refeição. E eu ficava
olhando ele almoçar. Depois do almoço ele olhava para mim e começava a contar
histórias. Uma dessas histórias eu vou contar agora: é sobre o dia em que ele
conheceu minha mãe.
‘’Quando
eu era pequeno, meus pais me levaram a uma festa: lá conheci sua mãe. Enquanto
nossos pais conversavam, eu e sua mãe fomos brincar. Quando eu voltei para
casa, não conseguia esquecer sua mãe, com aquele sorriso lindo, com o jeito
dela de pegar as coisas: e seus olhos brilhando.
No
dia seguinte eu fui para a escola. Ela sentava-se bem na frente, com uma amiga.
Então eu pedi para a amiga dela entregar-lhe uma carta: disse que gostava muito
dela e que a sua imagem não saía da minha cabeça. Então sua mãe leu a carta,
olhou para trás e, no belo sorriso que deu, dava para ver que ela estava feliz
com o que eu havia escrito para ela. Os olhos dela brilhavam, brilhavam.
No
dia seguinte, quando cheguei à escola, percebi que ela não estava. Então fui
para casa, perguntei a meu pai onde que a família dela havia ido. Ele me disse
que haviam se mudado. Eu fiquei muito triste. Mas um bom tempo se passou e eu
não tinha mais notícias dela. Um dia, quando eu ia para a igreja, encontrei
aquela amiga dela: e recebi uma carta que sua mãe tinha escrito para mim. A
carta dizia que ela tinha gostado muito de minha atitude, em ter me declarado
para ela. Também falava que ia se mudar e não sabia como me dizer isso. Dizia
que não quis me avisar porque não queria ferir meus sentimentos e que tinha
percebido que eu estava muito feliz. Mesmo assim, longe um do outro, eu comecei
a ficar mais feliz, porque sabia, de certeza, que ela também gostava de mim.
O
tempo passou, era domingo de manhã, eu estava conversando com meus amigos, veio
uma menina linda: percebi que não era estranha, que já tinha visto aquele
sorriso em algum lugar. Então aquela linda menina começou a chegar mais perto,
calmamente. Ela chegou, perguntou se me lembrava dela. Mas, diante de tanta
alegria, fiquei confuso e perguntei um
‘’quem é você?’’ Ela pegou um papel, entregou-me e sorriu. Abri o papel e vi
que era a carta que mandei para sua mãe. Começamos a conversar. Sua mãe
comentou que estava com saudades e que não tinha me esquecido. Anos e anos se
passaram, e um dia eu pedi a mão dela em casamento. Ela aceitou.
Mas,
quando faltava uma semana para o casamento, aconteceu algo ruim: a mãe dela
faleceu. Foram dias de choro, de dor. Então remarquei a data do casamento.
Quando o grande dia chegou, fiquei muito nervoso. Mas quando vi sua mãe vestida
de noiva, toda de branco, com os olhos cheios de felicidade e um belo sorriso
no rosto, parecia que tudo tinha mudado: eu era o homem mais feliz do mundo. Os
anos se passaram, tivemos filhos lindos e uma filha linda: você.’’
Então
ele acabou de contar a história, voltei para casa. O tempo passou, eu me casei,
tive duas meninas. Quando ninguém esperava, meus pais se separaram. Eu ficava
pensando o porquê dessa separação, pois eles tinham vivido uma linda história
de amor. Um dia perguntei a minha mãe por que eles tinham se separado. Ela
disse que papai havia se tornado um jogador de cartas, apostava o que tinha. E
isso se tornou um vício, levando-o a perder todos os bens que possuíam. Então
ela pediu divórcio.
É difícil a um filho ver seus pais separados.
É difícil... Minhas filhas cresceram, e um dia contei isso a elas. Todas as vezes
em que conto esse fato, a família fica atenta, para escutá-lo, e todos se
emocionam.
Mas
mesmo que meus pais não estejam mais juntos, sei que tudo valeu a pena. Porque,
afinal, eles permitiram que mais alguém pudesse conhecer essa vida: eu! E não
pode haver filme mais bonito que a experiência de viver. E viver bem cada dia,
para que haja muita história para contar. Principalmente de novas histórias que
nascem quando dois caminhos se cruzam...
Amanda Port Zastrow. 7 ano II.Matutino.