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9 de out. de 2014

Jovem escritor! Edição 09/2014

MENINO POR UMA CORRIDA

Meu nome é Maria. Moro em um vilarejo calmo, rodeado por pastos verdes, no interior de Santa Catarina. Nasci em uma época em que apenas os homens eram valorizados no atletismo: mas consegui participar de uma corrida. De um jeito estranho, mas consegui.Era quase ao cair da noite, meu pai, um comerciante, chegava do trabalho, mamãe fazia sopa de lentilha com carne, meu irmão gêmeo treinava para as competições de atletismo. E eu, por entre verdes pastos, levava um balde, a caminho da nossa vaca, Pechincha. (O nome dela era assim porque custou uma pechincha mesmo!). Comecei a tirar o leite, quando ouvi um grito: pela voz e pelo choro que logo começou, dava para saber que era meu irmão. Abandonei o balde e a vaca, e corri em direção ao Ítalo. Enquanto corria, um sentimento horrível me envolvia, e eu sentia como se algo muito ruim fosse acontecer. Meu coração foi frágil naqueles instantes: uma lágrima já rolava pelo meu rosto. Quando cheguei em casa, Ítalo, deitado na grama, gemia de dor. Papai e mamãe não ouviram o grito dele: conversavam sobre assuntos da política local, como sempre! Ajudei-o a se levantar: estendi a mão e ele a agarrou com força. Puxei-o, mas quando depositou o peso do corpo sobre as pernas, caiu novamente. Disse a ele que provavelmente havia quebrado a perna ou o pé. Meu irmão ficou pálido: e eu vi uma ponta de preocupação em seus olhos. Depois, chamei meus pais. Eles, correndo, foram socorrer Ítalo. Eu os segui, o coração apertado, tenso. Durante o jantar, tudo muito respeitoso, eu percebi que Ítalo, a perna enfaixada, fraturada pela queda que teve enquanto corria, tinha os olhos cheios de medo. Ao final do jantar, meu pai começou uma conversa que meu irmão com certeza não queria ouvir: não dava para participar das competições de atletismo. Ítalo, tenso, disse que precisava contar algo, mas que antes pedia que eu não o ‘’matasse’’. Ele, com voz trêmula, disse que um menino da escola havia lhe mostrado uma moeda de outro país. E que havia recebido-a  por ter vencido uma corrida. Então Ítalo desafiara o menino, dizendo-lhe que era o mais veloz. Se Ítalo ganhasse a aposta, ganharia do menino a moeda. Mas se perdesse, pagaria 5 moedas do dinheiro da época. Mamãe ficou uma fera de brava! Desesperei-me, sentia um calor imenso correr em minhas veias: queria mesmo era bater em Ítalo, pois dinheiro era coisa escassa em nossas vidas.
Na manhã seguinte perguntei o porquê daquela aposta sem sentido que ele fizera: pediu desculpas, dizendo ter agido sem pensar. Questionei se não tinha como mudar a aposta: o tal menino disse que vira papai alterando a data de validade de alguns produtos de nosso mercado, e que, se Ítalo fosse menos rápido que ele e não pagasse a aposta, ele denunciaria o nosso pai, e, com certeza, o mercado fecharia. Mas, do nada, tive uma ideia. Pulei da cama, fui encontrar-me com papai: eu e Ítalo éramos gêmeos, e, se eu cortasse o cabelo, poderia correr no lugar dele. Eu corria muito bem, e sabia que era minha vez de provar que uma mulher podia participar de uma corrida em igualdade com os homens. Mamãe cortou meus cabelos e fui treinar, correndo pelos campos.
No dia da competição, Jorge (esse era o nome do menino), perguntou se eu estava ‘’preparado’’ para perder. Mas, por sorte!, para evitar que eu falasse e ele percebesse que eu não era Ítalo, foi anunciado o início da competição. Inicialmente ele me ultrapassou, depois, ganhei fôlego e o deixei para trás. Eu perdi a competição: havia garotos mais velozes que eu. Nem me importei. Afinal, ele também não ganhou: livrei meu irmão do prejuízo. Minhas amigas, vendo meu cabelo curto, viraram-me as costas: naquela época, impensável a uma mulher usar cabelo curto. E confesso: de volta para casa, desabafei minhas mágoas com a vaquinha Pechincha - ela escutava-me, mesmo sem entender nada!
Agora, ao sentir esses ventos de outros tempos, vejo que não mudei o mundo, mas mudei o meu mundo: cortei meu cabelo e com ele, libertei-me. Prometi pregar uma em peça Ítalo, por tudo que eu tinha passado pelo meu irmão, pois mesmo tendo sido uma oportunidade de fazer o que queria, corri sérios riscos. Mas desisti de pregar uma ‘’peça’’ em meu irmão: a flor do perdão é a mais nobre das flores. E perdoar, a maior conquista de um ser humano, pois só há perdão onde há um coração cheio de amor.

Ahdassa Ferreira Brandão. 7º ano II, matutino.

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